Fatores impulsionadores e possíveis medidas para reverter a situação
Temos assistido nas últimas décadas, em Portugal e na Europa, a um decréscimo significativo da taxa de natalidade, aliado a um adiar do nascimento do primeiro filho. A evolução do papel da mulher na sociedade é, sem dúvida, uma das justificações, aliado às várias barreiras económicas que os jovens adultos têm de ultrapassar. As mulheres investem cada vez mais nos estudos universitários, apostam em carreiras profissionais exigentes, que roubam tempo para a construção do projecto familiar/ser mãe.
A evolução na contracepção, com vários métodos eficazes disponíveis, aliado ao aumento do conhecimento dos casais nesta temática, tem contribuído para a diminuição da gravidez não planeada em idades mais jovens. Por outro lado, as várias crises económicas dos últimos anos, acarretaram dificuldades acrescidas para os jovens adultos atingirem a independência financeira. O difícil acesso à habitação pode também atrasar a decisão de ter o primeiro filho. Além disso, antes de darem o grande passo da parentalidade, os jovens adultos querem viver diferentes experiências pessoais, sociais e profissionais. Querem fazer mestrados e doutoramentos, viajar, ter vários hobbies e serem promovidos.
Vai ficando para trás a decisão de ser mãe… Mas será que há riscos em adiar a maternidade?
Define-se maternidade em idade materna avançada quando esta ocorre depois dos 35 anos (inclusive). Em Portugal, cerca de 15% dos nascimentos de primeiros filhos ocorrem nesta fase. O aumento da idade materna associa-se ao risco aumentado de várias complicações, começando pela diminuição da fertilidade. Existe um declínio gradual da fertilidade com a idade, sendo este mais acentuado a partir dos 35 anos. Além disso, existem outras complicações como: aborto espontâneo (a taxa de aborto espontâneo em mulheres com menos de 35 anos é de 12%, entre os 35-39 anos é de 25% e após os 40 anos de 51%); gravidez ectópica; anomalias cromossómicas e malformações congénitas.
É mais provável uma gestação múltipla, quer em gestações espontâneas, quer após técnicas de procriação medicamente assistida. No decurso da gravidez em idades mais avançadas, podem existir complicações médicas, como hipertensão crónica, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. Quanto a morbilidade e mortalidade maternas e neonatais, destaca-se maior risco de parto pré-termo, parto por cesariana, recém-nascidos leves para idade gestacional e morte fetal.
Será que existem benefícios em adiar a maternidade? Nem tudo são riscos e complicações. A verdade é que também podem ser enumeradas algumas vantagens como a estabilidade financeira, maturidade materna, planeamento da gravidez, possivelmente com mais tempo para o bebé e para a família.
Será que esta tendência de adiar a maternidade pode ser revertida? Esta problemática tem de estar na agenda dos decisores políticos! Deve ser pensada e discutida em sociedade, para que sejam encontrados incentivos governamentais e empresariais que promovam a maternidade em idades mais jovens. Apostar em licenças de parentalidade partilhadas, redes de creches gratuitas de qualidade, melhoria dos incentivos fiscais, subsídios pré-natais e abonos de família mais abrangentes. É fulcral a criação de programas integrados entre o estado e as empresas com apoios nesta nova fase da vida dos seus colaboradores, com o objetivo de equilibrar a vida pessoal e profissional. Mais dinheiro, mais tempo em família, produtos ou serviços, o que seja, os novos pais agradecem.
Ainda assim, continuar a adiar a decisão de ser mãe vai ser a escolha de muitas mulheres. Porém, esta deve ser uma escolha consciente dos riscos e com informação sobre algumas soluções. Existe a possibilidade de preservar a fertilidade por motivos sociais, através da congelação de ovócitos. Mas até a eficácia da preservação vai depender da idade materna. A taxa cumulativa de recém-nascidos quando se utilizam ovócitos criopreservados é o dobro quando a colheita é feita antes dos 35 anos. Quanto maior a idade da mulher, menor o número de ovócitos colhidos e pior a qualidade dos mesmos. A idade é um factor determinante!
O adiar da maternidade pode ser um problema, mas também pode ser uma escolha. Deve ser uma escolha informada e consciente dos riscos e possíveis soluções.
2024 – Catarina Monteiro Ferreira
Interna de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Fernando Fonseca
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